24 setembro, 2025

"TELA IMPOSSÍVEL" - Nuno Júdice


Sérgio Godinho


 Sérgio Godinho

A primeira caricatura aceitável que desenhei foi de Sérgio Godinho. Fazer uma boa caricatura é muito difícil, e eu detesto, porque acho sempre que não apanho bem os traços marcantes do rosto do modelo, para depois os exagerar.

Sérgio Godinho era fácil de caricaturar, bastava exagerar naquele “bocão” imenso, quando sorria de orelha a orelha. Conheci Sérgio Godinho pela televisão, depois do 25 de abril. No Porto cruzei-me com ele algumas vezes, porque era amigo do arquitecto do atelier onde eu trabalhava e aparecia por lá. Também o encontrava na cervejaria Galiza. Sempre simpático, afável, ar juvenil e sorridente, parecia um miúdo.

Um dia fui ver um grande espectáculo dele, no teatro Rivoli - deixou os bilhetes no atelier. Os meus amigos e eu, naquela noite percorremos as ruas da baixa do Porto a cantarolar as músicas mais populares dele, que também passavam na televisão, num programa infantil denominado “Amigos do Gaspar”. Ainda hoje canto com frequência, “Cuidado Casimiro” e outras.

Vila Real recebeu Sérgio Godinho no primeiro dia da feira do livro, para falar sobre o seu livro “Como se não houvesse amanhã”, um livro de histórias suicidas. Um tema que dá “pano para mangas” o que me convenceu a ler o livro.

Foi noite de conversa literária nas palavras simples de Sérgio, que se acompanhava por uma garrafa de vinho Douro Jazz, bebericando de vez em quando.

Falou-se de suicídio, da vida e da morte, de Albert Camus, da Síndrome de Estocolmo, da forma como escreve, fazendo analogia entre a música e as palavras, e o seu processo de escrita, que é  outra janela que abriu para a criatividade. Disse que fica órfão das suas personagens quando termina um conto – achei bonito – porque essas personagens passam a pertencer ao leitor.

Frase que retive: “Não vivo sem criar, não crio sem viver”.

Inevitavelmente falou-se sobre liberdade e os perigos que atentam cada vez mais contra a mesma. Sobre Gaza, opinou sendo um verdadeiro um genocídio, reconhecido pela maioria dos países, que nós assistimos pela televisão sem poder fazer nada, gerando um grande sentimento de frustração.

Sérgio Godinho é um dos músicos portugueses mais influentes dos últimos 50 anos. As suas músicas de intervenção, tornaram-se intemporais, apelando para uma sociedade melhor e mais justa, lembro “Paz, pão, habitação, saúde, educação, só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo, o que o povo produzir”, que faz parte do cancioneiro revolucionário do pós 25 de Abril.

Os lugares sentados esgotaram e o claustro do edifício do Conde de Amarante, encheu-se de gente sequiosa por palavras com sentido e preocupada com os caminhos da liberdade.

Publicado no NVR 24|09|2025

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