26 setembro, 2025
24 setembro, 2025
Sérgio Godinho
Sérgio Godinho
A primeira caricatura
aceitável que desenhei foi de Sérgio Godinho. Fazer uma boa caricatura é muito
difícil, e eu detesto, porque acho sempre que não apanho bem os traços
marcantes do rosto do modelo, para depois os exagerar.
Sérgio Godinho era
fácil de caricaturar, bastava exagerar naquele “bocão” imenso, quando sorria de
orelha a orelha. Conheci Sérgio Godinho pela televisão, depois do 25 de abril.
No Porto cruzei-me com ele algumas vezes, porque era amigo do arquitecto do
atelier onde eu trabalhava e aparecia por lá. Também o encontrava na cervejaria
Galiza. Sempre simpático, afável, ar juvenil e sorridente, parecia um miúdo.
Um dia fui ver um
grande espectáculo dele, no teatro Rivoli - deixou os bilhetes no atelier. Os
meus amigos e eu, naquela noite percorremos as ruas da baixa do Porto a
cantarolar as músicas mais populares dele, que também passavam na televisão,
num programa infantil denominado “Amigos do Gaspar”. Ainda hoje canto com
frequência, “Cuidado Casimiro” e outras.
Vila Real recebeu Sérgio
Godinho no primeiro dia da feira do livro, para falar sobre o seu livro “Como
se não houvesse amanhã”, um livro de histórias suicidas. Um tema que dá “pano
para mangas” o que me convenceu a ler o livro.
Foi noite de conversa
literária nas palavras simples de Sérgio, que se acompanhava por uma garrafa de
vinho Douro Jazz, bebericando de vez em quando.
Falou-se de suicídio,
da vida e da morte, de Albert Camus, da Síndrome de Estocolmo, da forma como
escreve, fazendo analogia entre a música e as palavras, e o seu processo de
escrita, que é outra janela que abriu
para a criatividade. Disse que fica órfão das suas personagens quando termina
um conto – achei bonito – porque essas personagens passam a pertencer ao
leitor.
Frase que retive: “Não
vivo sem criar, não crio sem viver”.
Inevitavelmente
falou-se sobre liberdade e os perigos que atentam cada vez mais contra a mesma.
Sobre Gaza, opinou sendo um verdadeiro um genocídio, reconhecido pela maioria
dos países, que nós assistimos pela televisão sem poder fazer nada, gerando um
grande sentimento de frustração.
Sérgio Godinho é um
dos músicos portugueses mais influentes dos últimos 50 anos. As suas músicas de
intervenção, tornaram-se intemporais, apelando para uma sociedade melhor e mais
justa, lembro “Paz, pão, habitação, saúde, educação, só há liberdade a sério
quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo, o que o
povo produzir”, que faz parte do cancioneiro revolucionário do pós 25 de Abril.
Os lugares sentados
esgotaram e o claustro do edifício do Conde de Amarante, encheu-se de gente
sequiosa por palavras com sentido e preocupada com os caminhos da liberdade.
Publicado no NVR 24|09|2025
23 setembro, 2025
entre quem lê
ESTÓRIAS NO MAÇADOIRO integrado no painel da Academia de Letras de Trás-os-Montes, durante o evento "Entre quem lê"-